O Presidente da República parece revelar um insólito complexo de inferioridade perante Alberto João Jardim, que ainda não há muito lhe chamava desdenhosamente "Sr. Silva". Após quatro dias de pesadíssimo silêncio sobre a violação das normas constitucionais na Assembleia Legislativa da Madeira, Cavaco veio agora vaticinar que "a situação ficará normalizada esta semana". Por intervenção do próprio Presidente ou do seu apagadíssimo representante no Funchal, Monteiro Diniz? Nada disso. Até porque, alega o Chefe de Estado, nem o Presidente da República nem o Representante da República "têm quaisquer competências legais ou constitucionais para interferirem no funcionamento da Assembleia Legislativa" da Madeira.
É espantoso verificar como Cavaco Silva, que ainda há pouco batalhou com firmeza para não ver a sua capacidade de intervenção constitucional restringida na nova versão do Estatuto Politico-Administrativo dos Açores, faça agora tábua rasa dos seus próprios poderes constitucionais face à Assembleia Legislativa Regional da Madeira. Ao contrário do que diz Cavaco, o Presidente da República pode dirigir mensagens políticas à ALR (artigo 133º, alínea d) ou mesmo dissolvê-la (artigos 133º, alínea j, e 234º).
Toda a razão que Cavaco Silva pudesse ter na questão açoriana vai-se perdendo na comparação com a sua inexplicável atitude na questão madeirense. Dois pesos, duas medidas. E Carlos César, tanto quanto sei, até nunca teve o desplante de lhe chamar "Sr. Silva"...