quinta-feira, agosto 02, 2007

Crime sem castigo...

... é o que se pode dizer da prescrição do primeiro crime do estripador de Lisboa. Na manhã em que o cadáver de Maria Valentina foi encontrado numa poça de sangue a Polícia Judiciária estava longe de imaginar que o crime da Póvoa de Santo Adrião, arredores de Lisboa, era obra de um serial killer – assassino em série com incontrolável obsessão pela morte de prostitutas. Passaram 15 anos desde o dia em que o estripador fez a primeira de três vítimas. Sem deixar rasto. E prescreve assim o primeiro dos homicídios. O serviço de prevenção da Secção de Homicídios recebeu aquela chamada “entre tantas outras”, em 31 de Julho de 1992. E a experiência só não os preparara para “um cenário daqueles” à porta de um barracão, recorda ao CM o inspector-coordenador João de Sousa, em que o corpo da rapariga de 22 anos fora esventrado a golpes de raiva entre o tórax e a barriga – o assassino levara com ele o coração e partes do fígado e intestinos. O cadáver seguiu para os exames periciais e também José Sombreireiro nunca tinha visto tal coisa, entre 40 mil autópsias nos 30 anos que o médico-legista já levava de experiência. Prostituta e toxicodependente, toda a vida e ligações de ‘Tina’, como era conhecida, foram passadas a pente fino pela equipa da PJ. Mas sem sucesso. “Houve telefonemas, muitas cartas anónimas”, tudo foi investigado mas “faltava a prova” e o móbil do crime – até que, em 2 de Janeiro do ano seguinte, o estripador voltou a atacar. A segunda vítima do assassino foi Fernanda, 24 anos, prostituta conhecida na zona de Entrecampos, onde foi assassinada. Os trabalhadores das obras da ponte ferroviária encontraram o cadáver de manhã cedo, depositado num banho de sangue nas traseiras de um barracão do estaleiro. Toda uma brigada foi então mobilizada para o caso, ninguém teve dúvidas de que se tratava do autor do primeiro crime: o corpo retalhado e os mesmos órgãos retirados, mas desta vez também os seios da vítima decepados. Seis homens a trabalhar 24 horas no mesmo caso e “às vezes até com apoio”, recorda um inspector do combate ao tráfico de droga, com o departamento a ceder homens da sua brigada de vigilância durante a noite. “Seguiram-se pistas entre Lisboa e Cascais, foram ouvidas várias pessoas ligadas ao passado delas mas tudo informalmente, sem indícios suficientes para prender ou sequer interrogar alguém”, lamenta o coordenador João de Sousa. A PJ sabia que os serial killers voltam sempre a matar e corriam contra o tempo – mas a falta de pistas não permitiu evitar a morte violenta de Maria João, 27 anos, a 15 de Março de 1993. A terceira vítima, prostituta, foi mutilada da mesma forma que Fernanda e nem a cem metros do sítio onde foi encontrado o corpo de Valentina, na Póvoa de Santo Adrião. O médico-legista esclareceu que as prostitutas estavam vivas quando foram esventradas, apenas inconscientes devido a fortes pancadas na cabeça. E o homem que lhes arrancou o coração, fígado e pulmões demorou-se junto delas, mas nem assim deixou vestígios. Mantinha os rostos das vítimas intactos e nunca limpou o sangue. Os três crimes foram cometidos de noite e o perfil encaixa num solitário, sem relações com as vítimas e acima de qualquer suspeita. Sem erros, o estripador nunca foi apanhado.

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