... Oito horas da manhã, Instituto de Agronomia, ontem, em Lisboa. Margarida Vila-Nova chega cedo, sem maquilhagem, ar jovial. Quarenta minutos depois, tudo muda e a protagonista de ‘Corrupção’ sai do gabinete (improvisado) de Sano de Perpessac com mais uns anos em cima, ar de ressaca de pancada, vítima de um confronto desigual. No pescoço, as nódoas negras e feridas que agora se demarcam do tom claro da pele da actriz farão viajar o espectador – quando o filme for exibido – até às páginas do livro ‘Eu, Carolina’, as mesmas que inspiram esta cena da trama de João Botelho e nas quais Carolina Salgado relata a alegada agressão sofrida às mãos de Pinto da Costa e dos seus homens. “É uma mistura de cores, muitos contrastes”, resume ao CM Sano, a maquilhadora. São vermelhos, tons de sangue, verdes e amarelos, para um efeito de pele pisada. Para os arranhões que parecem saltar do pescoço da ‘vítima’ foi usada uma espécie de cola e, “em dez minutos, sai uma ferida...” “Acção!” “É a si que devo apresentar queixa?”, pergunta ‘Sofia’, perante o olhar cínico do ‘inspector amigo’ (José Raposo). Pouco depois, Margarida volta ao plateau já com a sua roupa vestida, ainda com o pescoço num estado (aparentemente) deplorável. “Estão a rir deste meu ar à civil com isto no pescoço?”, pergunta, brincalhona, aos membros da equipa técnica. José Raposo junta-se à festa e o futebol entra em campo. “Só estou aqui porque sou actor e vim ganhar dinheiro”, brinca, esquivando-se à curiosidade do CM, que quer saber mais sobre o ‘inspector amigo’, amigo dos poderosos da bola, claro está. “Só falo de futebol”, prossegue. Benfiquista confesso, noutros tempos, Raposo recorda as épocas em que o seu clube “ganhava os campeonatos europeus só com jogadores portugueses em campo”. É tempo de nova cena e Raposo toma a sua cadeira entre os dez inspectores da PJ. Silêncio, vai começar a reunião e este não é um encontro qualquer. “Hoje, ninguém janta. Temos a noite toda pela frente”. O aviso, em tom solene, dá o mote para as operações. O ‘inspector Luís’ (António Pedro Cerdeira) esperou anos por este dia e, na manhã seguinte, os agentes vão revistar as casas de dois poderosos (‘presidente’ e ‘vice-presidente’) que têm andado a investigar. No topo da mesa, ‘Luís’ e o ‘director da PJ’ (Miguel Monteiro) tomam o comando da conversa, enquanto o ‘inspector amigo’ e outro ‘agente’ (Filipe Vargas), contrariados, parecem querer distanciar-se da iniciativa. Mas não há nada a fazer, a operação ‘Envelope Chinês’ – nome de código anunciado, com altivez, pelo ‘director’ – vai mesmo para a frente. E que seja “um boa pescaria”...
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