... logo á partida parece estranho quando dizemos ao nosso pai que vamos ver um concerto e ele diz que também queria ir, mas não pode. Humm... Bom, tal como anunciado fui ver Mark Knopfler no Campo Pequeno, a grande voz e guitarrista dos Dire Straits. Antes do concerto começar, estava já eu a tomar lugar na plateia, bem junto ao palco quando começo a perceber que há minha volta se acumulavam o maior número de pistas de aterragem (vulgo carecas) por metro quadrado que já alguma vez vi em concertos. Mas, tudo bem, tudo bem. Depois mesmo antes do concerto começar três grunhos cujo léxico (ena que palavras tão caras) se resumia a expressões começadas por F***-**, por C******, por C***ões, etc etc. Finalmente o concerto começa. Os ditos grunhos iniciam a sua prestação com gritos "Ó Mark!!! Ó Mark" que rapidamente evolui para "O Mark está-se a vir!!!!". Sem comentários. Depois em vez de apreciarem a primeira música "Cannibals" preferiram discutir as hipóteses do Sporting chegar à final da Taça UEFA e se deviam ir ver ou não. Sou só eu que acho estranho alguém dar mais de 40 Euros para ir ver um concerto e começar a discutir futebol? Enfim... Felizmente os grunhos lembraram-se que não eram homens sem um balde de cerveja na mão e foram-se embora. Isto tudo enquanto os donos das carecas se abanavam sem mexer os pés, o que fazia com que os poucos cabelos seguissem o ritmo da música.
Quanto ao concerto propriamente dito, a primeira impressão que eu tive foi de espanto. Quem é aquele senhor barrigudo, de camisa aberta até ao peito, com uma valente pista de aterragem (vulgo, cálvice para variar) e os poucos cabelos que restam de côr branca que acena ao público e parece espantado perante o coliseu esgotado. Ahh, é Mark Knopfler, que mostra bem que os seus 58 anos não perdoam. É verdade, 58 anos. Não hei-de eu estar a menos de um mês de chegar aos 30. Para mim, esteve foi muito sereno, talvez até demais. Acompanhado por mais dois ex-Dire Straits, parece investir mais nos blues e na música celta. "What it is" põe o Campo Pequeno aos saltos e "Sailing To Philadelphia" faz ensaiar o côro. Depois Dose dupla dos Dire Straits leva o Campo Pequeno ao rubro. Primeiro «Romeo and Juliet», depois «Sultans of Swing», ainda e sempre a imagem de marca dos Dire Straits. E, já no encore, as indispensáveis «Brothers In Arms» e «So Far Away», recordações do álbum com a guitarra na capa, o primeiro que vendeu mais em CD do que em vinil.
Dando umas voltas pelas net, pude concluir que este concerto deu azo a uma discussão séria, entre aqueles que reconhecem Mark Knopfler como Guitar God e os que acham que o concerto foi uma seca pelo simples facto de terem ouvido pouco dos Dire Straits. Meus amigos, vocês não foram ver os Dire Straits, foram ver o seu vocalista que nos presentou também com seis músicas dos Straits. E quanto ao facto de Mick Jagger por exemplo ter ainda a mesma energia de há 30 anos, apenas um comentário: As pessoas não são todas iguais. Não é por nada, mas antes do concerto começar tentei adivinhar o que iria ser tocado dos Staits e sinceramente a minha aposta era Romeo and Juliet, Sultans of Swing, Brothers in Arms, Your Latest Trick e Calling Elvis. Acertei em mais de metade. Aliás quem se deu ao trabalho de ouvir Mark Knopfler a solo antes do concerto sabia para o que ia. O homem investiu mais num tipo diferente, algo country americano, céltico, não sei, e acima de tudo não está para estar aos saltos como no tempo dos DS. Mas continua a ser um mestre da guitarra, e é um privilégio poder dizer que já o ouvimos. E não sou só eu a dizer isto, vi muita gente com lágrimas nos olhos, ao som de Romeo and Juliet por exemplo. Knopfler não precisa de brincos, danças robustas, penteados espalhafatosos ou calças rasgadas. Ele veio para tocar e foi isso que fez, e com que qualidade! A voz está tão afinada como sempre ao contrário de muitos outros. E o que é que tem se ele está gordo?