terça-feira, setembro 30, 2008

A arte e ciência de ser pedinte...

Ser pedinte hoje em dia é uma arte, uma profissão. No fundo é ser vendedor de necessidades. Como sejam fumar, comer, beber, entre outras. Cada vez mais a tendência é que desapareçam os pedintes sujos, mal vestidos, com fedor, normalmente com a companhia de um rafeiro pulguento que nos abordavam com súplicas lancinantes por uma moedinha para comprarem uma mísera côdea. Há alguns anos, quando para me deslocar servia-me desse magnífico serviço que é a Rede Expressos, um pedinte, na desaparecida gare do Arco do Cego entrou no autocarro onde eu ia viajar e pediu dinheiro porque lhe faltavam dez Euros para comprar o bilhete para Coimbra (na verdade não me lembro se era mesmo Coimbra ou Pedrogão Grande mas isso agora tanto faz). Dizia eu, faltavam-lhe dez euros para chegar a Coimbra, mas não teve sucesso. A única coisa que conseguiu levar foi uma sandocha de fiambre que lhe deu uma senhora, e passo a citar, “para comer na viagem”. É óbvio que ele queria tanto ir para Coimbra como eu para o Estrela de África, e então o que é que ele fez? Saiu do autocarro e claro, tentou vender a sandes, perante a indignação da senhora que partilhou o seu “pão” com um devasso possuído pelo Demo. Bom, isto já se passou há uns anos, uma vez que eu agora subi na vida e passo a viajar em meios de transporte bem mais autónomos, como sejam por exemplo a Renex, ou o Intercidades. Mas para mim esse rapaz foi um visionário, qual António Variações da arte de mendigar, que estava algo há frente do seu tempo. O que é facto é que agora a coisa pegou. No sábado andei pela baixa de Lisboa, nomeadamente o Chiado. E por lá o que não falta são pedintes. E nas ruas mais estreitas, put... errr, mulheres da vida. Mas quanto aos pedintes havia de tudo. Há moda antiga, completamente bêbado, com fedor e deitado no chão, mas também outros com uma nova abordagem. Eu estava a tomar café na Brasileira, e na mesa ao meu lado uma senhora já com alguma idade e com sotaque (vim depois pela conversa dela a saber que tinha estado na Venezuela) conversava com outro senhor com sotaque, neste caso sotaque alemão. Maravilhas da globalização, dirão os mais puritanos. É então que são abordados por um senhor, vestido como outra pessoa qualquer, que começou com: ”Não me arranja um cigarro?” e após a resposta afirmativa da senhora portuguesa com sotaque da Venezuela, atirou uma bomba que, passo a citar:

“E já agora paga-me uma torta e um Sumol?”

Não sei é de laranja ou ananás, mas uma destas eu nunca tinha ouvido e claro já estava agarrado à barriga de tanto rir. Eu não estava era preparado para o que aí vinha. Depois de um esgar de surpresa, a senhora obviamente não ia pagar a torta e o Sumol. Ainda se fosse um copo de tinto carrascão, mas agora um Sumol... E então a resposta dele foi:

“Não me paga a torta e o Sumol? Então vou-me embora!!!”

E nem o cigarro ele quis... Eu quase que tive de me mandar para o chão de tanto rir e acho que até o Fernando Pessoa se estava a rir. E portanto deixo à vossa consideração esta minha dissertação sobre os pedintes. Mas eu acho que isto se está a tornar uma arte mesmo.

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