segunda-feira, março 24, 2008

Porquê mais cedo...

... A Páscoa aconteceu mais cedo este ano, e só daqui a aproximadamente duzentos anos o feriado vai realizar-se tão recuado no calendário. Este fenómeno envolve o início da Primavera e as fases da lua. A Páscoa é uma data móvel no calendário cristão relacionada com o mês lunar e as estações do ano. É calculada para coincidir com o primeiro domingo a seguir à primeira lua cheia da Primavera, no hemisfério norte, ou do Outono, no hemisfério sul. É necessária a união destas três condições para que se possa celebrar uma das mais importantes festas cristãs, que marca a ressurreição de Cristo. “O que acontece neste ano é um daqueles casos especiais”, sublinha o director do Observatório Astronómico de Lisboa, Rui Agostinho. “Hoje é o início da Primavera, amanhã é Lua cheia e, por isso, a Páscoa será neste domingo”, explica. A Páscoa pode acontecer a partir de 22 de Março e, no mais longo dos cenários, pode prolongar-se até 24 ou 25 de Abril. Pode realizar-se numa janela de tempo até 28 dias (o ciclo da Lua são 29) a seguir ao primeiro dia da Primavera e é sabido que terá de ser sempre num domingo, facto que pode ainda obrigar a que essa janela se prolongue por mais sete dias, no máximo. “Este ano só temos que esperar um dia pela Páscoa”, diz, por seu lado, Mário Loureiro, do Centro Ciência Viva Constância - Parque Astronómico. Este fenómeno - o facto do Domingo de Páscoa se celebrar no dia 23 de Março só voltará a acontecer dentro de mais de duzentos anos. Mas, por exemplo, de acordo com o almanaque do Observatório Astronómico de Lisboa, em 2011 será a 24 de Abril.

Tradição hebraica

A ideia da calcular a data da Páscoa através do mês lunar surgiu da tradição hebraica. “O povo hebreu celebrava a Páscoa para marcar a saída de Abraão do Egipto”, que foi feita numa época de lua cheia e no início da Primavera. Factos que não aconteceram por acaso: sem iluminação artificial, “as viagens e circulações em massa tinham de ser feitas em lua cheia” e a Primavera marca o início dos “tempos amenos”, explica Rui Agostinho. A data ganhou relevância para a religião católica uma vez que Cristo foi morto e ressuscitou quando foi comemorar a Páscoa hebraica a Jerusalém. Acontece que, segundo os escritos bíblicos, a ressurreição deu-se num domingo. “É possível ler no Velho Testamento que quando Cristo morreu estava lua cheia”, conta o director do Observatório Astronómico de Lisboa. Rui Agostinho realça que durante algum tempo as “comunidades católicas espalhadas pelo mundo” não comemoravam a Páscoa no mesmo dia. Foi no Concílio de Nicéia, no ano de 325, que a Igreja estabeleceu a celebração da data no primeiro domingo depois da lua cheia no início da Primavera. “Com isto tenta-se reproduzir ao máximo a morte e ressurreição de Cristo”, explica.

Confusão de calendários

A data da Páscoa envolve três formas distintas de marcar o tempo. “Os primeiros calendários surgem baseados no mês lunar que tem vinte nove dias e meio”, diz Rui Agostinho. Outros povos guiavam-se através das estações ano e os romanos dividiam os meses em trinta dias certos. De acordo com o director do Observatório Astronómico de Lisboa, para os povos que já tinham algum conhecimento de astronomia era mais fácil saber as mudanças de estação, no caso dos judeus, que não tinham tanto domínio deste saber, era feita uma observação do meio ambiente. É através da definição do dia da Páscoa que se estipulam outras datas, como a terça-feira de Carnaval que acontece 46 ou 47 dias (se o ano for bissexto) antes do domingo de Páscoa, ou 40 dias antes do domingo de Ramos.

Fonte: Público

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